A estreia no Teatro da Trindade - A Família


Paulo, o nosso Paulão e "o electricista" para Montserrat e Rosalina (que o viam sempre a arranjar as luzes lá de casa...) Aquele que, sem se dar por ele, monta dezenas de projectores e os afina como quem não quer a coisa... Aquele que fez o desenho de luz e a procura dos sons e operou cada dia que passou; Aquele que nos acompanhou ao Festival de Sto. André e sabia o lugar das coisas melhor que nós... Enfim, o homem da casa!
Sara, a nossa fadinha. Chegou de pára-quedas, aceitou o desafio e desenhou maquetes lindas para o cenário; Martelou e aparafusou, pintou e coseu (com a ajuda da avó: obrigada avó!) e, com pózinhos mágicos - como fazem as fadas - fez aparecer a casa, os adereços, os figurinos e o museu de Aniñando.
Carolina, a nossa re-quete-linda ("mais que linda", em argentino...) produtora, mãe, amiga... Que nos frena, que nos quiere, que nos organiza la vida, y que además re-quete-llora ("chora como uma madalena" , em argentino...) todo el espectáculo!

Mujeres que no están al borde de un ataque de nervios.... ( Nem mesmo a "encenadoooraa!" como insistiam em gritar quando precisavam de alguma coisa, as nossas velhotas - e as actrizes por detrás delas...)












"Din Dan" - A canção do espectáculo




Muita gente nos pergunta pela canção que Montserrat e Rosalina cantam enquanto fazem as tarefas do dia, antes da chegada do carteiro... Esta canção surgiu quando a Luciana Ribeiro (actriz e professora de Voz e Canto e nossa queridíssima amiga) nos veio dar um apoio vocal para ajudar a "soltar o piú" por detrás da máscara.

As três conhecíamos a canção através de um exercício que fizemos nos tempos de Barcelona. Acabou por ficar no espectáculo, mas ninguém sabia o que significava, menos ainda como se escrevia, só sabiamos que era basca. Escrevemos a uma amiga comum, Alay que é do País Basco.

Fiz um copy-paste do e.mail que ela nos enviou com todas a informações que encontrou e assim satisfaço (também) a vossa curiosidade!

P.S. Este espectáculo está repleto de coincidências, a letra desta canção é uma delas.


04.02.2007
Hola!!Es la primera vez que oigo esta canciòn, debe de ser muy vieja y seguramente de la zona de Bizkaia(Bilbao).Digo que es vieja porque tiene palabras que hoy en dìa no se escriben asì. De todas formas la he encontradoen internet y te la escribo correctamente.

Din Dan Matutian
iruk eklia
din dan borena
Dorrean bi uso
egalari


Traducciòn:
Din Dan al amanecer
Tres escaleras
borena (hacia arriba)
En la torre dos palomas
Volando.


La palabra borena, la he buscado en varios diccionarios y ninguno la reconoce, podria significar"en el norte", yo lo traducirìa asì: tres escaleras hacia arriba, en la torre dos palomas volando.
He sabido que las cosas os van muy, pero que muy, bieny me alegro mucho. Os mando muchos besos a las tres y mucha mierda. Màs besos,
Alay

Máscaras - Antes da Máscara Definitiva

Estes são os desenhos / esboços e as provas em papier-maché que mostram um pouco do percurso que foi feito para chegar às máscaras definitivas (em couro) que são usadas no espectáculo. Matteo Destro (para conhecerem melhor o trabalho do Matteo visitem o site http://www.larven.it/), o nosso mascheraio, aceitou o desafio de construir as máscaras para Aniñando, à distância, sem muitas explicações e directivas, e pela primeira vez a trabalhar em couro para um espectáculo. O percurso foi desde o envio dos moldes em gesso da cara das actrizes, até aos desenhos que propunham a forma a partir da qual já se consegue perceber rasgos de carácter, depois a duas propostas em papier-maché. A que vemos nas imagens foi a última antes de esculpir as máscaras na madeira (processo irreversível) para as fazer em couro - tudo isto entre voos correio Itália - Lisboa - Barcelona... Grazie tante, Matteo!

Montserrat




Rosalina










O resultado final, a Montserrat e a Rosalina que vocês conhecem...

E uma família feliz.


O primeiro encontro com Montserrat e Rosalina

Praia da Adraga, Sintra
13.01.2007

Esta sessão de trabalho tinha como objectivo procurar um corpo envelhecido, encontrar os sintomas da idade e perecber como se manifestam fisicamente. A ideia era pesquisar a memória física ligada aos pés e pernas (andar) , ás mãos (tacto e mobilidade), ao ouvido, à visão, ao sabor e ao olfacto. Despertar os sentidos e analisá-los na sua plenitude, percebê-los mecanicamente e a sua influência e depois retirar pouco a pouco a capacidade de os usar, debilitar o corpo e observar como reage.

O que acontece se for deixando de ouvir? Inclino o corpo para a frente, rodo a cabeça, ...?
E se perco sensibilidade na planta dos pés? Como procuro o equilíbrio?

Cada uma das actrizes fez um percurso individual e foi encontrando diferentes reacções, foi fixando um corpo, foi estudando tecnicamente as possibilidades e assim encontrámos, ao fim do dia a imagem física da Montserrat e da Rosalina. O que elas não sabiam é que aqueles corpos iam de encontro às máscaras que ainda não tinham visto... Não existem coincidências, as máscaras foram feitas a partir da cara de cada uma delas e a forma fica desde logo influenciada, mas não deixou de nos surpreender.

Mireia: as articulações dos dedos, as mãos perdem destreza; O andar, corpo que se inclina para a frente à procura de equilíbrio.

Não se sente bem no campo, sozinha, bichos, desconforto pela dificuldade em se movimentar...

Rita: "Senti as mãos a engordar...Tive necessidade de as esfregar constantemente e de tocar levemente na cara para as sentir."


As propostas da Rita inclinaram-se desde o princípio para alguém que encara o corpo debilitado com cepticismo, que se sente jovem e, apesar da dificuldade, a tendência foi sempre para fazer qualquer coisa para se entreter...


Tema do 1ºEncontro: EXCURSÃO



Estas são as inesquecíveis imagens do primeiro encontro entre a Rosalina e a Montserrat... As personalidades estavam definidas apenas pelas escolhas físicas que tinham feito, e essa relação consigo próprias e com o espaço provoca a outra e aparecem coisas inacreditáveis... Por verosímeis e por vêr surgir as personagens!




Não podiam ainda falar uma com a outra, mas estabeleceu-se uma relação que nem sempre foi fácil...

A Rosalina ia rebentando por não poder falar! Não é por acaso que não se cala durante o espectáculo todo...

A Montserrat estava aborrecida de morte e já não podia ver a outra à frente... Rabugenta?

Mas estas pequenas diferenças acontecem nas relações à força, ali percebeu-se que precisavam uma da outra com tudo o que isso implicava. Ao fim do dia lá se entenderam...

...e foram juntas para o autocarro.




09 de Janeiro de 2007 - Começam os Ensaios




MÁSCARA NEUTRA



"The masked, naked body, allows the actor to find the essential of his character and to present his findings in an articulate manner. The actor will find a new freedom under his mask. (...) All tricks become flagrantly visible and therefore unacceptable. Any lack of physical, emotional, and intellectual clarity simply cannot be tolerated by either the actor or the audience..." THE ARTICULATE BODY - Dennis, Anne - Ed. Nick Hern Books, London
A máscara neutra, uma máscara inteira, silenciosa, de rosto calmo e equilibrado, é seguramente a máscara de referência, aquela que está dentro de todas as outras. Pede um corpo em estado de alerta, curioso, sem conflitos, nem história,disponível para transformar a cena só pela presença e pela relação com o espaço. Encontrei nela o início de tudo. Escondi das actrizes as máscaras do espectáculo que já tinham chegado de Itália para uma primeira prova... Foi um reencontro com o "corpo de máscara", foi uma maneira de guardar no corpo a passagem dos anos de variados trabalhos, uma maneira de eu ver que corpos tinham elas agora.


07 de Janeiro 2007: A chegada da Mireia




Finalmente parece que a saga ia começar ao vivo e a cores. Dois dias antes do primeiro ensaio e a mês e meio da estreia, chegou a Mireia de Barcelona, para ficar pelo menos três meses a viver em Lisboa...

Aniñando: Documento / Ficção - III



A Associação Coração Amarelo é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, fundada em 2001, que tem como principais objectivos promover iniciativas que visem apoiar pessoas em situação de solidão, preferencialmente as mais idosas; promover, junto de entidades, iniciativas que visem uma melhoria da qualidade de vida das pessoas sós, contribuir para uma implementação nas comunidades de um apoio ao domicílio; dinamizar acções de cooperação com pessoas voluntárias que queiram e possam oferecer o seu tempo e saber. Esta Instituição conta com uma série de voluntários que visitam semanalmente estes idosos que vivem sós, realizam pequenas tarefas diárias, acompanham-nos num passeio, numa ida ao banco, ao teatro... Preenchem e enchem de alegria o vazio deixado pela solidão.

Para se fazer voluntário: coracaoamarelo@coracaoamarelo.org

site: http://www.coracaoamarelo.org/

Entrámos em contacto com esta associação e ganhámos uma conversa com algumas das pessoas responsáveis, ouvimos mais sobre o trabalho da Associação, encantámo-nos com as histórias e oferecemos o nosso voluntariado... Claro está que para se fazer este tipo de voluntariado não basta a boa vontade ou um tempinho ao fim do dia para preencher com uma boa acção! A Associação Coração Amarelo e os seus Beneficiários (à volta de 200!) pedem mais que isso: há formação, integração dos objectivos, continuidade, promoção de iniciativas várias, tempo regular que permita pelo menos duas horas semanais com o benefiaciário, entre outras solicitações necessárias. Pareceu-nos fantástico.

Mesmo assim, e porque na nossa profissão também temos muito para dar aos outros e fazê-los felizes, oferecemo-nos para contribuir.

O melhor de tudo foi que duas voluntárias deixaram que a Rita e a Mireia as acompanhassem numa visita a duas senhoras. As experiências foram individuais e trouxeram-nos muita inspiração real, que ficou no texto, no corpo das personagens, na memória delas e do espectáculo.

OBRIGADA!

Aniñando: Documento / Ficção - II

Alguns dos objectos expostos no cenário.
A primeira fase deste Documento / Ficção foi delinear o tema do espectáculo usando a distância como um dos seus principais conceitos. Incapazes de a superar fisicamente, resolvemos usá-la como parte integrante: através de cartas e e.mails, foram sendo dadas às actrizes tarefas e feitas propostas. Periodicamente fui enviando objectos, textos e reflexões, elementos que, interpretados livremente, pretendiam integrar uma história de vida de alguém que terá hoje mais ou menos oitenta anos. Propus que procurassem e inventassem lugares e acontecimentos, visitassem lares e locais de convívio, reinventassem memórias fictícias a partir de relatos reais, recolhessem todas as informações que achassem importantes e em que pudessem basear-se para construir um personagem com determinadas características. A minha tarefa consistia ainda em receber alguns desses elementos por elas depurados e transformados (diários, propostas, desenhos, objectos pessoais, canções, etc.) e escolher alguns, que seriam usados na história final do espectáculo.

Alguns desses elementos estão expostos no cenário, são parte integrante da casa, da longa vida da Rosalina e da Montserrat.

Aniñando: Documento / Ficção - I


O primeiro passo deste projecto foi na escola, em Barcelona, onde desenvolvemos um trabalho de Teatro Documental. Consistia em escolher um lugar da cidade, um tema a ele associado, ou mesmo uma profissão. Depois, tinhamos de nos integrar: se fosse uma praça, conhecer as 24 horas de acontecimentos; se fosse um restaurante, trabalhar lá, etc. Não era um trabalho de “jornalismo”, tratava-se de penetrar no lugar e saber exactamente como funcionava. Essas pesquisas transformaram-se em Documentos Teatrais, em que, fazendo uso de uma linguagem ou um estilo específico (máscaras, pantomima, etc.), só podiamos mostrar aquilo que tinhamos visto. Nada de ficção.
Durante muito tempo, passados anos de terminar a escola, desenvolvemos mil e um projectos baseados no Teatro Documental (e continuamos a fazê-lo). A Velhice era um tema comum às três, mas a distância e outros trabalhos não permitiam passar uma temporada num lar ou numa aldeia, trabalhar num centro de dia, ou fazer parte de uma associação... E quanto mais pesquisávamos mais percebiamos o quão vasto e complexo é o tema. Inventámos uma mistura de realidade e ficção. Dedicámo-nos a procurar e a inventar, a efabular e a escolher.

O Tema: A Velhice



La edad madura es aquella en que todavía se es joven, pero con mucho más esfuerzo.
Jean-Louis Barrault

Aniñando é uma palavra inventada. Parte do verbo português “aninhar” ao qual juntámos a palavra espanhola niñez, sinónimo de infância. O tema deste espectáculo é a velhice e este título é uma metáfora do que esta pode representar.

As pessoas mais velhas têm um papel muito importante na sociedade, papel esse muitas vezes ignorado, esquecido, difícil de integrar.
A medicina conseguiu aumentar o tempo de vida criando, ao mesmo tempo, uma situação em que a partir de uma certa idade a família cresce independente e as pessoas deixam de trabalhar, de produzir, e acabam por ficar sós. Os filhos, por inúmeras razões, não têm tempo para visitar os pais, os netos perdem essa ligação pelo caminho, e a pessoa idosa fica dependente de si própria, às vezes numa aldeia também esquecida e parada no tempo, às vezes num lar com condições questionáveis, ou na sua própria casa, que se torna demasiado grande, demasiado vazia. A solidão é, provavelmente, o motivo mais provável da perda de dignidade que qualquer doença: a angústia do tempo que parece estender-se infinitamente sem nada para o preencher, os espaços feitos de obstáculos, o cansaço físico, etc., tudo isto acaba por se transformar num problema afectivo. Existem cerca de 30.000 a 40.000 mil pessoas idosas em Lisboa que vivem completamente sós.
Observar e assumir esta solidão, é perceber que há uma tendência geral ao isolamento, que a solidão vem de trás, que é o reflexo da sociedade. Mas a chegada e a vida na chamada terceira idade, não é só tristeza e solidão, pode ser o momento em que tudo o que se viveu assume um lugar de destaque, de partilha. As pessoas mais velhas contam-nos histórias com o olhar, porque o seu corpo é um conjunto de memórias vivas e o seu saber contém uma riqueza infinita.

Bem-vindos, Bienvenidos, Benvinguts


Bem-vindos, bienvenidos, benvinguts ao Blog de Aniñando.


Este espaço foi criado por iniciativa da equipa que forma este projecto e o objectivo é comunicar com quem viu, vai ver ou rever este espectáculo, partilhar o processo de criação e o caminho que vamos trilhando em conjunto.

São alguns anos de histórias... Pelo menos a mim pareceram-me meses e meses de ebulição, empurrões (saudáveis), conversas, decisões, viagens, cartas, leituras, pessoas e mais pessoas a quem gentilmente roubei ideias, que me ouviram com infinita paixão e que contribuiram com muito mais do que elas mesmas podem imaginar.


A todos os que lerem estas palavras quero dizer que temos muito para vos contar, e que sabe mesmo bem poder fazê-lo!


Sofia Cabrita






As primeiras palavras de inspiração...



"Lo que más me importa en este mundo es el proceso de la creación.
Que clase de mistério es ése que hace que el simple deseo de contar historias se convierta en una pasión, que un ser humano sea capaz de morir por ella; morir de hambre, frio o lo que sea, con tal de hacer una cosa que no se puede ver ni tocar y que, al fin y al cabo, si bien se mira, no sirve para nada?"

Gabriel García Marquez