Travessia...

Mireia, Sofia e Ana Sofia... Na Praça do Giraldo, claro!



Caríssimos,

Aniñando avançou mais um bocadinho na travessia que preparámos para ele, desta vez no 5º Encontro de Teatro Ibérico, em Évora. Foi um belíssimo encontro com o palco do Garcia de Resende, com o Cendrev, com os técnicos, produtores, organizadores e público. A todos o nosso muito obrigado!

Esperemos que os objectivos deste(s) Encontro(s) se materializem em soluções e pontes ibéricas, nós, a equipa deste espectáculo, lá estará para contribuir com mais um pilar!


Desta vez não temos fotografias - excepto a que está neste post -, só filmagens que esperamos em breve poder partilhar convosco. Ficou muito bonita a casa de Rosalina e Montserrat naquele teatro lindo ...


A quem interessar, aqui fica o link para consultar o programa do Encontro que se prolonga ainda até Domingo, dia 09.12: http://www.cendrev.com/



Estimados,

Aniñando avanzó un poco más en el camino de la travesía que le hemos preparado, esta vez en en el 5º Encontro de Teatro Ibérico, en la ciudad de Évora. Fue un encuentro maravilloso con el palco del Teatro Garcia de Resende, con el Cendrev, con los técnicos, productores, organizadores y público. Muchas gracias a todos!

Esperamos que los objectivos de este(os) Encuentro(s) se materializen en soluciones y puentes ibéricas, todo el equipo de este espectáculo estará listo y disponible para contribuir con un pilar más!


Esta vez no tenemos fotografias, solamente pequeños vídeos que esperamos en breve poder compartir con todos vosotros. Ha quedado muy bonita la casa de Rosalina y Montserrat en aquél teatro tan bonito...


Podéis consultar la programación del Festival en www.cendrev.com











E diz a prima...





Minha querida Mireia,

Realmente fiquei pior desde que convivi com a Monserrat, ela é muito difícil! A minha prima Rosalina tinha razão: ela é de gancho! Tenho muita pena de não ter conseguido escrever mais cedo, mas desde que a minha prima Rosalina de Lisboa me pediu para tomar conta da Monserrat que a minha vida mudou quase da água para o vinho, não haja dúvida. Ando diferente, não sei. Deve ser das saudades. Não diga nada à sua tia, querida Mireia, mas a verdade é que de vez em quando me dá assim um aperto… até choro, veja lá! Sou muito emotiva, sabe é uma coisa de família. A minha prima é tal e qual. Nós somos muito amigas, sabe? A distância entre o Seixal e Lisboa agora não é nenhuma, com os carros automáticos que há hoje em dia e os comboios e tudo, é um instantitinho, mas antigamente não era nada assim, não tinha nada a ver! Agora é que não a tenho visto muito, ela anda para lá a tratar da sobrinha, a Ritinha, minha afilhada, que está de esperanças. Ainda bem que ela lá está, porque eu realmente não podia. Eu gosto muito dela, é uma rapariga muito engraçadinha, muito mimosa. E agora está de barriga, estou ansiosa por ver aquele bebé cá fora. A Rosalina também está ansiosa, anda histérica, no outro dia falámos ao telefone e nem queira saber, não pensa noutra coisa. Eu até me dá graça, porque a minha prima nunca teve assim muita queda para crianças, era mais os bichos, mas uma pessoa envelhece e os gostos mudam, não é? Os meus também têm vindo a mudar, principalmente desde que convivi com a Monserrat. Ai, faz-me tanta falta!... Dava-me tanta graça… Mas é verdade. Eu que até tinha alergia aos animais, flores éuma coisa, agora animais era mais a minha prima, mas afeiçoei-me muito àquela cadela, filha, e aos gatos e tudo. Foi uma perdição. Tomei-lhe o gosto e agora não quero outra coisa. Já tenho três periquitos e uma tartaruguinha, e já pedi à minha vizinha ali da Cova da Piedade que tem uma gatinha malhada que vai agora ter uma ninhada para Dezembro que me dispense um gatinho... Ai… Onde é que eu ia? Está a ver, era por isso que eu não queria escrever, já sabia que quando começasse nunca mais ia parar e eu tenho muito que fazer, não posso ficar aqui à procura das letras… Onde é que eu ia? Ah, sim, a minha prima Rosalina, é isso! Pois, somos muito chegadas, e quando ela me pediu o favor de cuidar da Monserrat não pensei duas vezes. Não percebo é porque é que dizem essa coisa de nós termos um feitio muito diferente. Eu não acho nada, até fisicamente e tudo, somos iguaizinhas, filha, não vejo diferença nenhuma. A minha prima é tão calma, tão elegante, tão bonita! Eu não desfazendo também não estou nada mal. Ela foi sempre foi muito bonita, isso é verdade. E as fotografias que me enviava lá da Espanha, dela e da Monserrat, todas aperaltadas! Aquilo é que foi uma vida! Eram as duas bem bonitas, não haja dúvida. Espaviladas, como ela gosta de dizer! Mas onde é que e ia?... Ah, sim. Não acho nada que eu seja assim tão diferente da minha prima. Pronto, sou da outra banda, tenho assim um feitio mais arejado, mas também sou muito calma, não parece mas sou, e até tenho muita paciência, a sua tia Monserrat é que valha-me Deus, espreme a cabeça a um santo, de teimosa que é. Tenho muitas saudadinhas. Eu acho graça é a menina dizer que ela se deu conta que eu não era a Rosalina, quer dizer, que eu não era a minha prima… que confusão… Mas bom, alguma vez ela se deu conta? Qual quê, filha, não vá nessas cantigas que isso é tudo conversa dela! Ela nem vê bem! E mesmo que visse, eu e a minha prima somos praticamente gémeas, de feitio e tudo! Isso são truques dela e televisão a mais, é o que é. Cuide bem de si e trate bem da sua tia, nunca se esqueça dos comprimidos e faça-lhe companhia, que é o que ela precisa. Até parece que a estou a ouvir falar e a rir e tudo, e a contar aquelas histórias… Pronto, já chega, vou-me embora que isto já não são horas de andar a pé. Ah, e esconda-lhe os cigarros sempre em sítios diferentes, para ser mais difícil ela dar com eles e assim sempre fuma menos. Um beijinho muito grande, sim, filha? Rosalina Esteves do Seixal





P.S.: Agora não dá para escrever os beijinhos todos que eu gostava, mas tenho muitas saudadinhas da minha prima, isso tenho, e da minha afilhada Ritinha, coitadinha, não te preocupes com o peso, a tua tia que te faça papas de farinha maizena que são muito boas e ela sabe fazer muito bem. Muitos beijinhos a todos e a todas e muitas, muitas saudades, sim? Beijinhos.

Montserrat diu:

Hola a todos!

Soy Mireia, la sobrina de doña Montserrat y les voy a contar el motivo por el cual soy yo quien escribe en el blog y no mi querida tia.

Hace una semana sorprendí a mi tia delante de mi ordenador escribiendo! (algo realmente inaudito) Me había dejado el word abierto, estoy trabajando con este programa y esto fue lo que encontré en medio de mi documento:

hjolaksioy muontrdsertatrtibvera fuyestoriymuy ncointewnta deakjedestar

...Como algunos de ustedes ya saben, mi tia hace ya algunos años que no ve muy bien, ( por no decir casi nada). Doña Montserrat ya hace bastante tiempo que sabe que existe un sitio "en tu tele" (como ella dice, refiriendose a mi ordenador y más concretamente al blog de aniñando en internet) donde podemos escribir y compartir experiencias con todo aquel que quiera acercarse a ellas.

Cuando visitamos el blog, no le leí todo lo que Doña Rosalina había escrito, pues no quería alterar a mi tia. Durante la ausencia de doña Rosalina se siente extraña. Según ella, "Rosaliña ha dejado de tomar las pastillas de la noche y por eso esta tan gruñona conmigo, se cree que soy tonta y no lo he notado!" Hay que reconocer que Doña Rosalina de Seixal tiene una energia inagotable y un carácter más fuerte que el de su prima.
No sé decir del cierto si mi tia sabe que doña Rosalina es, durante este periodo, su prima de Seixal. Puesto que la prima de doña Rosalina está haciendo grandes esfuerzos de paciencia para tolerar el caracter de mi tia. Y debo decir que con muy buenos resultados.

Doña Montserrat quiere mandar un fuerte abrazo a todos aquellos que han venido a vistar su casa y decirles que son siempre bienvenidos, sobretodo los señores de más de 65 años!
Y otro abrazo muy especial a la sobrina de doña rosalina que sabe que muy pronto será mamá!

Yo, también me despido de todos ustedes agradeciendo de todo corazón su apoyo incondicional a estas tres viejas de quien he aprendido tanto durante este tiempo y a quien no puedo hacer otra cosa que quererlas a pesar de su edad y sus manías, porque con más o menos edad todos tenemos nuestras cosas y no por eso dejamos de sentir!

beijinho (escrito por Montserrat, con mi ayuda, para todos ustedes)

Y hasta pronto!

mireia

Teatro em Branco pelas Aldeias do Douro

Festival Aldeias Vinhateiras do Douro
Entre 15 de Setembro e 29 de Outubro vá passear ao Norte e passe um fim de semana numa das aldeias que integram este evento. Durante seis fins de semana cada aldeia tem uma programação diferente: música, concertos, teatro, ateliers, histórias, artesanato, provas de vinho e muita coisinha boa daquela que só encontramos naquela região!
UCANHA - TREVÕES - SALZEDAS - PROVESENDE - FAVAIOS - BARCOS
A Associação Teatro em branco e Escena Subterranea vão estar em todas as aldeias, com os espectáculos Flor de Um Dia, Os Visitantes, Panda Pá, Uma Viagem uma História e ateliers de conta-contos.

"Lançado em 2001, no âmbito da Acção Integrada de Base Territorial do Douro (AIBT do Douro), o programa “Aldeias Vinhateiras” tem como objectivo principal a criação de uma dinâmica de regeneração e valorização das aldeias do Douro Vinhateiro, através da revitalização socio-económica, da fixação da população e do reforço da promoção turística do Douro."- retirado do site oficial
VER TODA A PROGRAMAÇÃO em http://www.aldeiasvinhateiras.pt/

Passagem de testemunho...










Fotografia tirada durante o período de ensaios de substituição das "Rosalinas", Setembro de 2007.

IX Festa do Teatro - Setúbal



O espectáculo de sexta-feira, dia 07, no Auditório do Inatel em Setúbal, encerrou uma sessão dupla de Aniñando... Mais uma vez e sempre: muito obrigado pelo convite, foi um prazer estar em Setúbal, fomos muito bem recebidos e vamos querer voltar sempre!


Há mais para vir, muitos espectáculos por fazer, muitas mais viagens.

Por enquanto essas datas e lugares esperam confirmação, vão dando uma olhadela ao blog que vai sendo actualizado.

VI Festival de Máscaras e Comediantes


Ontem foi uma noite muito especial - mais uma! Obrigado a todos os que dela participaram, ao público, aos amigos e companheiros desta aventura, a toda a equipa do Festival e ao Filipe Crawford pelo seu convite.
E como o Festival ainda não acabou, aproveitem a programação desta sexta-feira e do fim-de-semana:
- Sexta -feira, 22 hrs., Castelo de S. Jorge - "Arlequino, Servidor de Dos Patrones", pelo Teatro del Finikito.
- Sábado, 22 hrs., Castelo de S. Jorge - "Pulcinella´s War", de António Fava.
- Domingo, 19 hrs., Museu da Marioneta - Apresentação Final do Estágio de Commedia dell´Arte.
e ainda
EXPOSIÇÃO DE MÁSCARAS DE ANTÓNIO FAVA, até 08 de Setembro no Museu da Marioneta.

Novidade


"O Aniñando é um espectáculo feito de cumplicidades", disse-nos alguém um dia, no fim de um espectáculo. Desta vez somos cúmplices numa transformação muito importante, a nossa actriz Rita Rodrigues vai ter de tirar umas férias do palco de Aniñando para assistir uma nova niñez...
Para perceberem melhor o que queremos dizer e anunciar, leiam o post anterior ("Da Rosalina para a Rosalina"), escrito pela própria Rosalina, dirigido especialmente à sua substituta!
A partir de agora, Ana Sofia Paiva vai integrar a nossa equipa e estamos todos muito contentes de a receber!

Da Rosalina para a Rosalina

Disseram-me para escrever aqui, nesta coisa, é um blogue, não é? Bom, deve ser. Foi a menina Sofia que disse para o fazer. Ela é boa moça, coitadita, muito bonita, mas tem cá uma língua... É, é! Estava sempre a tentar pôr a Montserrat contra mim, que eu bem sei. Ela pensava que eu não me dava conta, mas eu percebia tudo... é que eu estou sempre muito atenta! Bom, mas isso não interessa nada agora. O que interessa é que a menina Sofia me pediu... quer dizer, pedir, pedir não é bem o termo, ela fez-me um ultimato e, ó filhos, eu não estou para ter problemas com a míuda, que até é boa moça! Apesar de ser um bocado linguaruda e gostar de criar conflitos, mas isso agora não interessa nada.
Bom, como eu estava a dizer, a míuda “pediu-me” para falar um bocadinho da minha vida e cá estou eu. Eu até não gosto nada de falar de mim e da minha vida, mas se é preciso, olha cá vai. Ah, mas é verdade, ainda não expliquei porquê. Eu explico: é que a minha sobrinha, a Rita, vai ter um bebé. É, engravidou! Também já não era sem tempo, a rapariga já tem trinta anos. Bom, e então ela precisa da minha companhia e ajuda, mas só até à criança nascer, que eu gosto mesmo é de animais. É, é! As crianças são muito lindas, mas é para os pais as aturarem e depois dos anos que eu passei a educar os filhos dos outros, foi-se me a paciência. Então eu vou lá passar uns meses a casa dela, que até me faz bem à cabeça, porque a Montserrat às vezes mói-me muito o juízo! É que é muito agressiva! E pelo menos, lá em casa da minha sobrinha posso dar de comida aos pombinhos lá da frente sem ninguém me chatear!
Bom, por causa disso pedi à minha prima do Seixal, a Rosalina (a nossa madrinha não tinha muita imaginação, então deu o mesmo nome às afilhadas todas!), para vir cá para casa tomar conta da Montserrat. É porque a Montserrat parece um bebé, é que não faz nada sozinha! É, é! Ela parece muito senhora de seu nariz, mas sem mim não é nada! Bom, e como eu não vou poder estar com ela, pedi à minha prima, que é muito boa moça e ainda está boa para ir à rua comprar o jornal e o pão, para ir lá para casa estes meses. E, felizmente, ela aceitou. É que se não aceitasse era um sarilho, que eu não a podia deixar sozinha! Só que a Montserrat, que é teimosa como uma porta, não pode perceber desta nossa troca, é que vai logo dizer que não precisa de ninguém, que está muito bem sozinha e por aí adiante. Então, eu e a minha prima combinámos que ela fazia de mim e, como a Montserrat não vê nada bem, nem se vai aperceber. Só que para isso tenho que a pôr a par de algumas coisas da minha vida, não vá a Montserrat (que é mais esperta que o sei lá, danada, danada mesmo!) pôr-se a fazer perguntas para ver se sou mesmo eu.
Então, cá vai:



Prima Rosalina do Seixal,

Depois da morte da minha mãe, o meu pai tinha falecido havia já alguns anos, fui para Barcelona. A minha mãe tinha-me feito prometer que depois de acabar o curso de professora ía viajar pela Europa e como tinha ficado com algum dinheiro (como sabes, o meu pai era diplomata e ganhava bem, assim que deu para termos uma vida bem boa!) assim foi. Instalei-me, lá em Barcelona, em casa de uma amiga da minha mãe, a Dueña Maria, que me alugou um quarto bem jeitoso. A Dueña Maria alugava mais quartos a raparigas solteiras, então aquela casa estava cheia de moças novas! Um dia apareceu lá a Montserrat, toda muita engraçada, com uns caracóis todos vivos, toda muito pintada, e já não havia mais quartos para alugar. E eu, não sei bem porquê, tive pena da moça e disse que ela podia dividir o quarto comigo, que ele era bem grande e dava para as duas à vontade. Ela não se fez de rogada e abancou-se logo. E assim foi, dividimos quarto para mais de três anos!
Eu lá comecei a estudar espanhol e a conhecer alguns colegas, quase todos vindos de outros países da Europa. Eu era muito atadinha, mas a Montserrat, que a sabia toda, começou a dar-me umas lições de “viver a vida” e eu lá fui aprendendo... ora, também nunca fui burra! Para começar cortou-me o cabelo, parecia logo outra, mais moderna! Depois emprestava-me as roupas dela, pintava-me, olha, eu parecia uma boneca nas mãos dela!
A Montserrat, que vinha lá de uma aldeia perto, tinha vindo para Barcelona porque queria ser artista, gostava muito de cantar, e cantava bem! Mas, como ela não tinha assim posses, já nem tinha quase família nenhuma, precisava de ganhar sustento e lá foi para uma empresa trabalhar como telefonista. Mas à noite, arranjava-se toda e calcarroava os bares e clubes nocturnos, arrastando-me pelo braço, para tentar arranjar quem apostasse nela como cantora. Tinha uma força de vontade, a rapariga! Nessas saídas nocturnas acabámos por conhecer muita gente, muitos artistas. Comecei a fumar e a beber, como a Montserrat, e acabámos por fazer um grupo de amigos aspirantes a artistas. Sonhávamos todos em montar um grupo de música de dança com várias cantoras (a Montserrat convenceu-me!) e ainda chegámos a ensaiar. Queríamos estrear-nos na “Paloma”, que era assim o clube de baile mais interessante em Barcelona. Ai, o que nós gastámos as solas dos sapatos naquele chão. Bailávamos sem parar a noite inteira, eu nem sei como é que os nossos pés se aguentavam! E depois fazíamos viagens em grupo: fomos a Sevilla (aquilo é que foi um fim-de-semana!), viemos a Portugal (os meus amigos de cá ficaram todos malucos com a Montserrat, acho que nunca tinham visto uma mulher assim, tão fogosa e brilhante!) e sei lá mais aonde é que a gente foi!
Bom, foram tempos muito lindos. Mas aquela vida não podia durar sempre. Acabei por me apaixonar por um desses homens elegantes e galãs que vivem à noite, que dançava como um anjo, que me fez crer que eu era a mulher da vida dele e eu, que bem tolinha era, caí que nem um patinho. Só tinha olhos para ele! Ah, pois, ele fazia-me sentir uma mulher lindíssima. Comecei a ficar vaidosa. Comprava roupas para ficar bonita para ele e ele elogiava-me e fazía-me sonhar. Dízia que se ía casar comigo, que íamos viajar juntos pelo mundo e eu sei lá mais o quê! Até que um dia caí do cavalo e acordei deste sonho: descobri que o anjo era um diabo que corria atrás de vários rabos de saia e prometia mundos e fundos a todas. Ai! Quando descobri isto sofri muito. Ao princípio nem queria acreditar como é que me tinha deixado levar por aquele homem! A Montserrat ajudou-me muito, queria levar-me a passear, a conhecer outras pessoas, a divertir-me, como fazíamos antes, mas eu estava magoada e já nada tinha brilho para mim.
Por isso, vim-me embora de Barcelona e nunca mais lá voltei. No fundo, vim para Lisboa para fugir dele, pois tinha medo de cair nas suas garras outra vez e se me queria dar ao respeito, não o podia fazer! Comecei a trabalhar como professora primária, comecei a gostar do trabalho e das crianças (que não eram como as de agora que não sossegam um bocadinho). Era uma vida completamente diferente da que tinha vivido em Barcelona, mas pelo menos dava-me sossego, que era o que eu precisava! Fiquei a viver na casa que era da minha mãe e lá vivi, na companhia dos meus animais, durante algum tempo. Eu e a Montserrat continuamos a escrever-nos, mas ela nunca me falava muito da sua vida pessoal.
Só sei que um dia me tocam à campaínha e lá estava a Montserrat! Estava ainda bonita, bem mais velha claro, mas bem arranjada como sempre. Vinha-me fazer uma visita. Foi uma grande alegria. Passeámos por Portugal, apresentei-lhe os meus amigos, os vizinhos e ela foi ficando, ficando. Não sei bem como, mas quando demos por ela já vivíamos as duas nesta casa. E ainda bem! Porque, não sei o que é que aconteceu, passado algum tempo os meus bichinhos (o gato, a cadela, os piriquitos e os bichos-da-seda) morreram todos. Eu andava tão triste que se não fosse a Montserrat estar cá comigo tinha ficado muito sozinha. E lá me aguentei! Lá nos aguentámos, uma à outra, até hoje! E olhem que não sei bem como, porque ela tem cá um feitio que não é nada fácil! O que vale é que eu tenho muita paciência, se não eu não sei o que seria de nós!
Bom, prima Rosalina, acho que sabendo tudo isto da minha vida já é suficiente para que a Montserrat não desconfie de nada. Obrigada por teres acorrido ao meu pedido, pois se não viesses eu não sei como é que ía fazer para deixar a Montserrat e ir tomar conta da minha sobrinha parideira. Se precisares liga-me quando a Monserrat estiver a dormir! Não te preocupes com os teus bichinhos que eu já falei com a minha sobrinha e ela leva-me lá ao Seixal de carro para eu lhes dar de comer! Eu sei que vais sentir muito a falta deles, nem sabes como eu te percebo!
Mais uma vez obrigada e aproveita esta temporada com a Montserrat, que apesar de ter aquele feitio de cão, quando quer é divertida como o raio! Já sabes qual é o pão e o jornal de que ela gosta, não te enganes, se não estás tramada!
Muitos beijinhos e falamos em breve!

A tua prima e sempre amiga,
Rosalina Esteves

Ps- Tem cuidado com a mocinha Sofia, é muito boa moça, mas já sabes...
Pps- Não te preocupes com a casa que o electricista e a menina Sara tomam conta de tudo.
Ppps- Cuida bem da Montserrat.

8ª Mostra de Teatro de Sto. André

No passado dia 26 de Maio estivemos na 8ª Mostra de Teatro de Sto. André, a convite de Mário Primo e da Associação Ajagato. Não podíamos deixar de referenciar a nossa passagem por esta Mostra no nosso blog... Foi o primeiro espectáculo "fora de portas" e não podia ter sido melhor! Fomos muitíssimo bem recebidos e acarinhados. Foi um enorme prazer poder partilhar o espectáculo em Sto. André, conhecer a Associação e as pessoas que dela fazem parte e perceber que, mesmo numa sala grande, com muita gente, podemos estar tão perto do público!
Muito, muito obrigado por tudo!


"Abaladiça"
Conversa, pós-espectáculo, entre as actrizes, a encenadora e o público, mediada por Mário Primo.

Conferência Sobre Máscaras

"... La máscara siempre ha existido como forma de hablar de algo que no se puede hablar."




Matteo Destro
Actor, Encenador, Pedagogo e Artesão de Máscaras

Licenciado em Pedagogia, forma-se posteriormente na École Internationale de Théâtre Jacques Lecoq de Paris. Especializa-se em Análise de Movimento com Norman Taylor e em Construção e Criação de Máscaras com Donato Sartori. Desde 2001 tem desenvolvido uma intensa actividade como formador e pedagogo teatral em Itália e no estrangeiro. Organiza cursos e seminários sobre Teatro do Gesto, Movimento e Mimo, Técnica da Máscara, Clown, entre outros. Colabora com escolas e companhias de teatro, instituições públicas e privadas, entre as quais Comune di Padova, Regione Veneto, Universidad de Bellas Artes di Bilbao, Stabilimento Teatrale di Caerano San Marco, Scuola Internazionale di Creazione Teatrale Kíklos, Centro Culturale e di Espressione Ossidiana di Vicenza, Istituto Italiano di Cultura di Grenoble, Centro Studi Motus Mundi, Teatro Immagine di Venezia, Xena di Padova, Anonima Teatro Francia, Asphalt Theatre Israele, The School of Theatre “Inchicore College Dubline”.


No sábado, dia 10 de Março, promovemos no Teatro da Trindade, uma conversa com o nosso "mascheraio". Aproveitando a sua visita para ver o espectáculo - e o resultado do seu trabalho - , convidámos todos a ouvir o que o Matteo tem para dizer sobre a construção, a encenação e a reflexão de um teatro baseado nas máscaras.

Foi uma viagem através do seu olhar, da sua urgência de encontrar na forma uma nova linguagem dramática sempre que pensa e molda uma máscara.


Máscara Neutra - de Donato Sartori

Máscara Larvar - de Matteo Destro

Máscaras de Commedia Dell´Arte (uma variante de Zanni e um Capitano) - de Stefano Perrocco


Da neutra, à larvar, passando - como não podia deixar de ser - pelas de Commedia dell´Arte, chegando ás expressivas que se renovam pelas suas mãos. Ora dêem uma olhada às fotografias:




Estas máscaras fazem parte de "séries", algumas foram utilizadas em espectáculos da sua própria Companhia (Compagnia Larven, Sogno di un Aprendista Rivoluzionário. Ver mais em http://www.larven.it/) e em Companhias estrangeiras (Anonima Teatro, França).

Teatro da Trindade - Estreia


Entrevista da Antena 1





Estas são algumas imagens do dia da estreia. As actrizes, as personagens, os presentes que trocámos, as mensagens que recebemos, as pessoas que encheram a sala, todos aqueles nervos que fazem parte desse primeiro dia...


Enfim, esta é uma desculpa para, ao encerrar os "posts" pré-estreia (pois já lá vão uns meses), agradecer a todos aqueles que foram ver este espectáculo à sala-estúdio ( alguns bateram recordes e esgotaram a sala!), e a toda a equipa do Teatro da Trindade que nos recebeu maravilhosamente !

A estreia no Teatro da Trindade - A Família


Paulo, o nosso Paulão e "o electricista" para Montserrat e Rosalina (que o viam sempre a arranjar as luzes lá de casa...) Aquele que, sem se dar por ele, monta dezenas de projectores e os afina como quem não quer a coisa... Aquele que fez o desenho de luz e a procura dos sons e operou cada dia que passou; Aquele que nos acompanhou ao Festival de Sto. André e sabia o lugar das coisas melhor que nós... Enfim, o homem da casa!
Sara, a nossa fadinha. Chegou de pára-quedas, aceitou o desafio e desenhou maquetes lindas para o cenário; Martelou e aparafusou, pintou e coseu (com a ajuda da avó: obrigada avó!) e, com pózinhos mágicos - como fazem as fadas - fez aparecer a casa, os adereços, os figurinos e o museu de Aniñando.
Carolina, a nossa re-quete-linda ("mais que linda", em argentino...) produtora, mãe, amiga... Que nos frena, que nos quiere, que nos organiza la vida, y que además re-quete-llora ("chora como uma madalena" , em argentino...) todo el espectáculo!

Mujeres que no están al borde de un ataque de nervios.... ( Nem mesmo a "encenadoooraa!" como insistiam em gritar quando precisavam de alguma coisa, as nossas velhotas - e as actrizes por detrás delas...)












"Din Dan" - A canção do espectáculo




Muita gente nos pergunta pela canção que Montserrat e Rosalina cantam enquanto fazem as tarefas do dia, antes da chegada do carteiro... Esta canção surgiu quando a Luciana Ribeiro (actriz e professora de Voz e Canto e nossa queridíssima amiga) nos veio dar um apoio vocal para ajudar a "soltar o piú" por detrás da máscara.

As três conhecíamos a canção através de um exercício que fizemos nos tempos de Barcelona. Acabou por ficar no espectáculo, mas ninguém sabia o que significava, menos ainda como se escrevia, só sabiamos que era basca. Escrevemos a uma amiga comum, Alay que é do País Basco.

Fiz um copy-paste do e.mail que ela nos enviou com todas a informações que encontrou e assim satisfaço (também) a vossa curiosidade!

P.S. Este espectáculo está repleto de coincidências, a letra desta canção é uma delas.


04.02.2007
Hola!!Es la primera vez que oigo esta canciòn, debe de ser muy vieja y seguramente de la zona de Bizkaia(Bilbao).Digo que es vieja porque tiene palabras que hoy en dìa no se escriben asì. De todas formas la he encontradoen internet y te la escribo correctamente.

Din Dan Matutian
iruk eklia
din dan borena
Dorrean bi uso
egalari


Traducciòn:
Din Dan al amanecer
Tres escaleras
borena (hacia arriba)
En la torre dos palomas
Volando.


La palabra borena, la he buscado en varios diccionarios y ninguno la reconoce, podria significar"en el norte", yo lo traducirìa asì: tres escaleras hacia arriba, en la torre dos palomas volando.
He sabido que las cosas os van muy, pero que muy, bieny me alegro mucho. Os mando muchos besos a las tres y mucha mierda. Màs besos,
Alay

Máscaras - Antes da Máscara Definitiva

Estes são os desenhos / esboços e as provas em papier-maché que mostram um pouco do percurso que foi feito para chegar às máscaras definitivas (em couro) que são usadas no espectáculo. Matteo Destro (para conhecerem melhor o trabalho do Matteo visitem o site http://www.larven.it/), o nosso mascheraio, aceitou o desafio de construir as máscaras para Aniñando, à distância, sem muitas explicações e directivas, e pela primeira vez a trabalhar em couro para um espectáculo. O percurso foi desde o envio dos moldes em gesso da cara das actrizes, até aos desenhos que propunham a forma a partir da qual já se consegue perceber rasgos de carácter, depois a duas propostas em papier-maché. A que vemos nas imagens foi a última antes de esculpir as máscaras na madeira (processo irreversível) para as fazer em couro - tudo isto entre voos correio Itália - Lisboa - Barcelona... Grazie tante, Matteo!

Montserrat




Rosalina










O resultado final, a Montserrat e a Rosalina que vocês conhecem...

E uma família feliz.


O primeiro encontro com Montserrat e Rosalina

Praia da Adraga, Sintra
13.01.2007

Esta sessão de trabalho tinha como objectivo procurar um corpo envelhecido, encontrar os sintomas da idade e perecber como se manifestam fisicamente. A ideia era pesquisar a memória física ligada aos pés e pernas (andar) , ás mãos (tacto e mobilidade), ao ouvido, à visão, ao sabor e ao olfacto. Despertar os sentidos e analisá-los na sua plenitude, percebê-los mecanicamente e a sua influência e depois retirar pouco a pouco a capacidade de os usar, debilitar o corpo e observar como reage.

O que acontece se for deixando de ouvir? Inclino o corpo para a frente, rodo a cabeça, ...?
E se perco sensibilidade na planta dos pés? Como procuro o equilíbrio?

Cada uma das actrizes fez um percurso individual e foi encontrando diferentes reacções, foi fixando um corpo, foi estudando tecnicamente as possibilidades e assim encontrámos, ao fim do dia a imagem física da Montserrat e da Rosalina. O que elas não sabiam é que aqueles corpos iam de encontro às máscaras que ainda não tinham visto... Não existem coincidências, as máscaras foram feitas a partir da cara de cada uma delas e a forma fica desde logo influenciada, mas não deixou de nos surpreender.

Mireia: as articulações dos dedos, as mãos perdem destreza; O andar, corpo que se inclina para a frente à procura de equilíbrio.

Não se sente bem no campo, sozinha, bichos, desconforto pela dificuldade em se movimentar...

Rita: "Senti as mãos a engordar...Tive necessidade de as esfregar constantemente e de tocar levemente na cara para as sentir."


As propostas da Rita inclinaram-se desde o princípio para alguém que encara o corpo debilitado com cepticismo, que se sente jovem e, apesar da dificuldade, a tendência foi sempre para fazer qualquer coisa para se entreter...


Tema do 1ºEncontro: EXCURSÃO



Estas são as inesquecíveis imagens do primeiro encontro entre a Rosalina e a Montserrat... As personalidades estavam definidas apenas pelas escolhas físicas que tinham feito, e essa relação consigo próprias e com o espaço provoca a outra e aparecem coisas inacreditáveis... Por verosímeis e por vêr surgir as personagens!




Não podiam ainda falar uma com a outra, mas estabeleceu-se uma relação que nem sempre foi fácil...

A Rosalina ia rebentando por não poder falar! Não é por acaso que não se cala durante o espectáculo todo...

A Montserrat estava aborrecida de morte e já não podia ver a outra à frente... Rabugenta?

Mas estas pequenas diferenças acontecem nas relações à força, ali percebeu-se que precisavam uma da outra com tudo o que isso implicava. Ao fim do dia lá se entenderam...

...e foram juntas para o autocarro.